Um dos mais engraçados que já li
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O romance Vineland (1990, 504 pgs), de Thomas Pynchon, reemergiu com o filme [[Uma Batalha Após a Outra]] (2025), que o usa como inspiração leve.
Li há tanto tempo que foi como se nunca tivesse lido. Na época, não tinha gostado tanto porque foi logo depois de O Arco-Íris da Gravidade (1973) — desejava mais do mesmo e não é. Agora saí com o maxilar doendo de gargalhada: uma das experiências literárias mais pilhéricas que lembro.
Pynchon é um dos romancistas norte-americanos mais cultuados, devido à prosa frenética de sobrecarregar à imaginação, ao ponto de vista paranoico de uma realidade onde tudo está interligado, ao espírito contracultural, talvez ao conhecimento cultural enciclopédico imparcial — que coloca pop e kitsch ao lado do erudito — e por ser um escritor misterioso e recluso do qual só se conhece uma foto, do ensino médio.
Apesar do humor ácido …
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O romance Vineland (1990, 504 pgs), de Thomas Pynchon, reemergiu com o filme [[Uma Batalha Após a Outra]] (2025), que o usa como inspiração leve.
Li há tanto tempo que foi como se nunca tivesse lido. Na época, não tinha gostado tanto porque foi logo depois de O Arco-Íris da Gravidade (1973) — desejava mais do mesmo e não é. Agora saí com o maxilar doendo de gargalhada: uma das experiências literárias mais pilhéricas que lembro.
Pynchon é um dos romancistas norte-americanos mais cultuados, devido à prosa frenética de sobrecarregar à imaginação, ao ponto de vista paranoico de uma realidade onde tudo está interligado, ao espírito contracultural, talvez ao conhecimento cultural enciclopédico imparcial — que coloca pop e kitsch ao lado do erudito — e por ser um escritor misterioso e recluso do qual só se conhece uma foto, do ensino médio.
Apesar do humor ácido ser um elemento natural do autor, Vineland foi sua primeira comédia escrachada aberta.
É a estória de um ex-hippie no início da era Reagan, sua filha adolescente, a mãe ex-ativista subversiva e um agente da lei priápico que persegue a família pelas décadas. Mais ou menos metade da narração são flashbacks nos anos 60, entre rock, drogas e revolta política. Fora várias outras personagens, como uma ninja norte-americana que aprendeu golpes acupunturais fatais, uma comunidade de outsiders “tanatoides” — pessoas meio mortas-vivas de tanto trauma sociopolítico —, um narcotira compulsivamente viciado em programas de TV, um japonês ukulelista fugindo de uma conspiração envolvendo uma criatura supostamente godzíllaca, e a banda punk Chamando o Hugo e os Vomitons (Billy Barf and the Vomitones), que toca para um mafioso italiano.
Apesar de ser um dos livros divertidos e “fáceis” de Pynchon, estão lá as gigantescas frases a la Kerouac cheias de vírgulas separando itens cada um mais mirabolante que o outro. Adoro, especialmente pelo tom satírico contra a corrente. Mas é uma estética cuja apreciação pode exigir algum cultivo. Não são raras as situações beirando o fantástico farsesco, chegando a simular as fantasias absurdas da consciência canábica.
Um motivo porque as estórias de Pynchon permanecem atuais é a onipresente ameaça fascista ou autoritária, e a percepção transfigurada paranoide das personagens, que hoje já integra o espírito dos tempos nas teorias da conspiração que hipnotizam massas (só que de direita, em geral).
É excelente a tradução de Reinaldo Moraes e Matthew Shirts, que adaptaram todas as gírias ao português brasileiro de forma convincente e muitas vezes hilária.