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A Premonição by Michael Lewis
Para quem conseguia ler as entrelinhas, as notícias censuradas da China pareciam aterrorizantes. Mas Donald Trump insistiu que não havia …
Costumo ler sci-fi, filosofia, natureza, política, tech e alguma fantasia (George R.R. Martin e Ursula Le Guin). Mais livros no blog → sol2070.in/livros
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Para quem conseguia ler as entrelinhas, as notícias censuradas da China pareciam aterrorizantes. Mas Donald Trump insistiu que não havia …
Para quem conseguia ler as entrelinhas, as notícias censuradas da China pareciam aterrorizantes. Mas Donald Trump insistiu que não havia …
(→ sol2070.in/2024/05/livro-a-premonicao/ )
"A Premonição" ("The Premonition", 2021), do jornalista Michael Lewis, é um thriller da vida real sobre um grupo de infectologistas e pesquisadores norte-americanos não convencionais que descobriu, fora dos canais oficiais, como lidar com uma pandemia para o qual ainda não há vacina, antes da chegada da Covid.
Mergulha na vida dessas pessoas e também retrata como a política e a burocracia acabaram sendo inimigas da saúde pública, impedindo que o plano fosse implementado com eficácia. Tragicamente, no país onde surgiu esse conhecimento, os EUA, a técnica não foi empregada de modo apropriado, o que resultou em um número massivo de mortes desnecessárias (como no Brasil, onde Bolsonaro imitava o negacionismo de Trump). Os países com menos mortes foram os que seguiram a cartilha elaborada pelo grupo que, no final, se tornou o procedimento-padrão.
A história começa com o insight básico sobre restrições sociais em áreas-chave que …
(→ sol2070.in/2024/05/livro-a-premonicao/ )
"A Premonição" ("The Premonition", 2021), do jornalista Michael Lewis, é um thriller da vida real sobre um grupo de infectologistas e pesquisadores norte-americanos não convencionais que descobriu, fora dos canais oficiais, como lidar com uma pandemia para o qual ainda não há vacina, antes da chegada da Covid.
Mergulha na vida dessas pessoas e também retrata como a política e a burocracia acabaram sendo inimigas da saúde pública, impedindo que o plano fosse implementado com eficácia. Tragicamente, no país onde surgiu esse conhecimento, os EUA, a técnica não foi empregada de modo apropriado, o que resultou em um número massivo de mortes desnecessárias (como no Brasil, onde Bolsonaro imitava o negacionismo de Trump). Os países com menos mortes foram os que seguiram a cartilha elaborada pelo grupo que, no final, se tornou o procedimento-padrão.
A história começa com o insight básico sobre restrições sociais em áreas-chave que poderiam neutralizar a disseminação de uma nova doença altamente contagiosa, se aplicadas no momento certo. A ideia inicial foi de uma aluna colegial que, com a ajuda do pai, escolheu esse tema para apresentar na feira de ciências da escola. A descoberta começou a ser menosprezada ainda aí, e continuou sendo até o início da pandemia.
Apesar do tema árido, o livro é um vira-páginas dos mais envolventes.
Um tempo atrás havia lido "Sem Limites", também de Lewis. Gostei tanto de seu estilo de reportagem, narrando uma grande história real como um thriller, que cheguei n’A Premonição. Outro livro do autor já está na fila.
Uma operação de resgate tem como intuito salvar o corpo que está sendo flagelado e levá-lo para um outro lugar, onde será restaurado. Quem sabe, depois de uma reabilitação, ele pode até seguir operante na vida. Isso partindo da ideia de que a vida é útil, mas a vida não tem utilidade nenhuma. A vida é tão maravilhosa que a nossa mente tenta dar uma utilidade a ela, mas isso é uma besteira. A vida é fruição, é uma dança, só que é uma dança cósmica, e a gente quer reduzi-la a uma coreografia ridícula e utilitária. Uma biografia: alguém nasceu, fez isso, fez aquilo, cresceu, fundou uma cidade, inventou o fordismo, fez a revolução, fez um foguete, foi para o espaço; tudo isso é uma historinha ridícula. Por que insistimos em transformar a vida em uma coisa útil? Nós temos que ter coragem de ser radicalmente vivos, e não ficar barganhando a sobrevivência. Se continuarmos comendo o planeta, vamos todos sobreviver por só mais um dia.
— A vida não é útil by Ailton Krenak (75%)
When you bring back a long-extinct species, there’s more to success than the DNA.
Moscow has resurrected the mammoth, but …
When you bring back a long-extinct species, there’s more to success than the DNA.
Moscow has resurrected the mammoth, but …
(em português: sol2070.in/2024/05/The-Tusks-of-Extinction )
American Ray Nayler wrote one of the best science fiction books I've read in recent years: “The Mountain in the Sea”. That's why I've been waiting for the release of “The Tusks of Extinction” (2024).
It's a 105-page novella — something between a short story and a novel — about extinction, biotechnology and consciousness transplantation.
In the future, mammoths are genetically recreated in a reserve in Siberia, but as the species depends on a culture passed down for generations, they don't survive as there is no one to teach them. The solution is to transplant the consciousness of a murdered elephant human guardian, in the hope that the pachydermic culture will be useful to the resurrected species. The complicating factor is that to finance the research, mammoth hunts are offered to billionaires willing to pay millions for the privilege of killing one. And illegal hunters are …
(em português: sol2070.in/2024/05/The-Tusks-of-Extinction )
American Ray Nayler wrote one of the best science fiction books I've read in recent years: “The Mountain in the Sea”. That's why I've been waiting for the release of “The Tusks of Extinction” (2024).
It's a 105-page novella — something between a short story and a novel — about extinction, biotechnology and consciousness transplantation.
In the future, mammoths are genetically recreated in a reserve in Siberia, but as the species depends on a culture passed down for generations, they don't survive as there is no one to teach them. The solution is to transplant the consciousness of a murdered elephant human guardian, in the hope that the pachydermic culture will be useful to the resurrected species. The complicating factor is that to finance the research, mammoth hunts are offered to billionaires willing to pay millions for the privilege of killing one. And illegal hunters are also starting to go after the valuable tusks.
I have a grudge about the cliché of consciousness transference, but the book is so good that I didn't care. The dive into the minds and culture of these animals is particularly moving.
It's not as good as the previous book only because of the smaller number of pages and the more limited focus of the story. But I agree with the publicity for the book, which presents Nayler as a ‘new master of science fiction’.
(em português → sol2070.in/2024/04/ficcao-climatica-the-wall/ )
John Lanchester's “The Wall” (2019) is a powerful piece of climate fiction. Without didacticism, it throws us straight into the dystopia, decades in the future, of "an island nation, something like England" where all young people, including women, have to serve two years in the military at a wall that has closed off the country.
We follow young Joseph Kavanagh from his first day in the service to developments that go far beyond the initial premise.
For those unfamiliar with the consequences of the current climate emergency, there is a certain mystery and suspense. The causes that led to the situation or the nature of the main threat are only commented on indirectly. Because the scenario, from the narrator's point of view, doesn't need to be explained.
Even so, being familiar with the predictions of what will happen in a decade or two is not …
(em português → sol2070.in/2024/04/ficcao-climatica-the-wall/ )
John Lanchester's “The Wall” (2019) is a powerful piece of climate fiction. Without didacticism, it throws us straight into the dystopia, decades in the future, of "an island nation, something like England" where all young people, including women, have to serve two years in the military at a wall that has closed off the country.
We follow young Joseph Kavanagh from his first day in the service to developments that go far beyond the initial premise.
For those unfamiliar with the consequences of the current climate emergency, there is a certain mystery and suspense. The causes that led to the situation or the nature of the main threat are only commented on indirectly. Because the scenario, from the narrator's point of view, doesn't need to be explained.
Even so, being familiar with the predictions of what will happen in a decade or two is not a requirement for reading. The book simply works as a sweeping dystopian journey, with remarkable twists and turns and sub-genres such as romance, coming of age and survival adventure.
As well as being memorably well-written and creating a totally immersive world, another merit is that it not only shows this side of the wall, but also delves into the other side.
(original com links → sol2070.in/2024/04/ascensao-e-queda-sam-bankman-fried/ )
"Sem Limites" (Going Infinite, 2023), de Michael Lewis, é uma biografia de Sam Bankman-Fried, garoto-propaganda das criptomoedas que teve ascensão e queda vertiginosas. A história vai até sua prisão em 2022 (este ano, foi condenado a 25 anos de prisão por fraude e outros crimes financeiros).
Eu não tinha nenhum interesse especial no assunto ou pessoa, mas livro-reportagem é um dos gêneros que mais gosto. Também acho intrigante o universo TESCREAL. Parecem ideias de ficções distópicas que começaram a vazar para o mundo real. Sam faz parte do movimento Altruísmo Eficaz, uma dessas filosofias. Sua primeira empresa chegou a ser composta exclusivamente por pessoas do grupo.
Essa ideologia casou perfeitamente com o impulso matematizador do bilionário precoce. Ficamos sabendo como, por exemplo, ele calculava as probabilidades de retorno não apenas de cada ação mas também de relações afetivas. Ou como empresas financeiras recrutam negociadores …
(original com links → sol2070.in/2024/04/ascensao-e-queda-sam-bankman-fried/ )
"Sem Limites" (Going Infinite, 2023), de Michael Lewis, é uma biografia de Sam Bankman-Fried, garoto-propaganda das criptomoedas que teve ascensão e queda vertiginosas. A história vai até sua prisão em 2022 (este ano, foi condenado a 25 anos de prisão por fraude e outros crimes financeiros).
Eu não tinha nenhum interesse especial no assunto ou pessoa, mas livro-reportagem é um dos gêneros que mais gosto. Também acho intrigante o universo TESCREAL. Parecem ideias de ficções distópicas que começaram a vazar para o mundo real. Sam faz parte do movimento Altruísmo Eficaz, uma dessas filosofias. Sua primeira empresa chegou a ser composta exclusivamente por pessoas do grupo.
Essa ideologia casou perfeitamente com o impulso matematizador do bilionário precoce. Ficamos sabendo como, por exemplo, ele calculava as probabilidades de retorno não apenas de cada ação mas também de relações afetivas. Ou como empresas financeiras recrutam negociadores em faculdades onde a média de pessoas no espectro autista é dez vezes mais alta — foi assim que ele conseguiu o primeiro emprego, onde tomou gosto por hackear o mercado.
Apesar de a narrativa não especular sobre a neurodivergência de Sam — em sua defesa no tribunal sua “condição autista” foi alegada como atenuante —, os sintomas todos aparecem de forma muito clara. A história também é um mergulho nesse modo extremamente particular como ele vê o mundo, além da trajetória do enriquecimento frenético e de sua proclamada convicção no ideal do Altruísmo Eficaz — enriquecer para doar. Um dos aspectos mais intrigantes de sua personalidade é que ele aparentava mesmo não estar agindo apenas para ganhar a maior quantidade de dinheiro possível. Mas o autor também aponta diversos furos onde a nobre narrativa de Sam não cola.
Como outros livros do jornalista Michael Lewis, "Sem Limites" é um envolvente thriller vira-páginas de não-ficção. Já até comecei outro, "A Premonição", sobre covid.
(Li o original em inglês e não sei como é a versão traduzida.)
“Quando o aluno esquisito da turma se tornava uma das pessoas mais ricas do mundo, era de se pensar que …
“Quando o aluno esquisito da turma se tornava uma das pessoas mais ricas do mundo, era de se pensar que …
(original com links → sol2070.in/2024/04/A-profecia-de-Fahrenheit-451 )
O livro "Fahrenheit 451" (1953), do mestre Ray Bradbury, é outra clássica ficção distópica que demonstra o poder profético de ficções especulativas de mais de 70 anos atrás.
Não sei porque demorei tanto para ler, já que alguns contos fantásticos de Bradbury me impactaram ainda na adolescência.
O futuro que ele imaginou em 1953 parece muito próximo, se já não estiver acontecendo. Os horrores de um governo hediondo são camuflados através de um embotamento generalizado das pessoas. Livros são queimados como objetos proibidos e as pessoas que os possuem são condenadas como subversivas.
Acompanhamos a trajetória de Guy Montag, um dos agentes militares responsáveis por essa incineração e perseguição — tarefas que passaram a ser responsabilidade dos bombeiros. É uma das mais poderosas histórias de conversão que já vi, concentrando todo o talento de Bradbury como um mágico contador de histórias.
Apesar de o …
(original com links → sol2070.in/2024/04/A-profecia-de-Fahrenheit-451 )
O livro "Fahrenheit 451" (1953), do mestre Ray Bradbury, é outra clássica ficção distópica que demonstra o poder profético de ficções especulativas de mais de 70 anos atrás.
Não sei porque demorei tanto para ler, já que alguns contos fantásticos de Bradbury me impactaram ainda na adolescência.
O futuro que ele imaginou em 1953 parece muito próximo, se já não estiver acontecendo. Os horrores de um governo hediondo são camuflados através de um embotamento generalizado das pessoas. Livros são queimados como objetos proibidos e as pessoas que os possuem são condenadas como subversivas.
Acompanhamos a trajetória de Guy Montag, um dos agentes militares responsáveis por essa incineração e perseguição — tarefas que passaram a ser responsabilidade dos bombeiros. É uma das mais poderosas histórias de conversão que já vi, concentrando todo o talento de Bradbury como um mágico contador de histórias.
Apesar de o foco ser o poder dos livros, fica claro que sua extinção é apenas um dos aspectos da estupidificação geral. Alguns outros mencionados: a distração de reality shows interativos, um fone de ouvido constantemente despejando entretenimento no cérebro, a obsessão com carros, máquinas e publicidade, o fim de conversas que vão além de trivialidades óbvias e a condenação instantânea de qualquer questionamento maior.
Assim como no "Admirável Mundo Novo" de Huxley, repressão explícita é desnecessária. Basta apresentar uma confortável direção de menor esforço, sem alternativas reais, que as pessoas irão cega e voluntariamente obedecer.
Não é preciso ser nenhum velho saudosista ranzinza para perceber um padrão semelhante atualmente. Alguns exemplos inofensivos ou até bobos — mas que somados sugerem algo alarmante — que me vêm automaticamente à mente:
Ao considerar uma possível estupidificação, o ponto não é sublinhar a superioridade de determinado tipo de cultura, prática ou conhecimento. A crítica é que isso atende perfeitamente os interesses de corporações e poderosos em geral para que nada mude, como em "Fahrenheit 451". Não só atende, mas há um tipo de auto-organização da cultura sob o atual sistema político-econômico que resulta nisso.
Ou por que a extrema-direita rejeita com tanta força a obra do educador Paulo Freire ou até o mero foco em políticas de educação? Porque isso gera questionamento e pensamento crítico em relação ao modo como as coisas estão — estão assim por motivos bem particulares, não é que elas são ou têm que ser assim. Entretenimento barato e confortos da modernidade, casados com estrangulamento socioeconômico, bloqueiam esse tipo de reflexão, impedindo até a ideia da possibilidade de mudança.
Não é por acaso que essas distopias proféticas clássicas como "1984" (1949), "Admirável Mundo Novo" (1932) e "Fahrenheit 451" (1953) tenham surgido praticamente na mesma época. Foi quando o controle de massas com determinado tipo de cultura e consumo começou a se mostrar extremamente eficiente.
(original com links → sol2070.in/2024/04/decenio-decisivo-luiz-marques/ )
Em "O Decênio Decisivo" (2023), o historiador Luiz Marques demonstra porque a civilização humana tem até 2030 para reverter radicalmente sua direção autodestrutiva, no contexto da emergência climática e da extinção em massa de espécies. Sem isso, a escalada exponencial do desastre é certa. Também lista as medidas sociopolítico-econômicas necessárias.
É um trabalho rigoroso e preciso de compilação e síntese das melhores pesquisas no mundo, não é uma tese do autor.
Considerando a enormidade da tarefa, o resultado impressiona, ficando em pé de igualdade com os melhores livros de autores do norte global. Também intimida, devido ao inevitável despejo de listas, gráficos e citações de relatórios e cientistas. Apesar de o público-alvo não ser a academia, acabou sendo uma leitura mais acadêmica do que esperava. Mais do que sua obra anterior "Capitalismo e Colapso Ambiental" (2018), focado em demonstrar como a raiz do colapso …
(original com links → sol2070.in/2024/04/decenio-decisivo-luiz-marques/ )
Em "O Decênio Decisivo" (2023), o historiador Luiz Marques demonstra porque a civilização humana tem até 2030 para reverter radicalmente sua direção autodestrutiva, no contexto da emergência climática e da extinção em massa de espécies. Sem isso, a escalada exponencial do desastre é certa. Também lista as medidas sociopolítico-econômicas necessárias.
É um trabalho rigoroso e preciso de compilação e síntese das melhores pesquisas no mundo, não é uma tese do autor.
Considerando a enormidade da tarefa, o resultado impressiona, ficando em pé de igualdade com os melhores livros de autores do norte global. Também intimida, devido ao inevitável despejo de listas, gráficos e citações de relatórios e cientistas. Apesar de o público-alvo não ser a academia, acabou sendo uma leitura mais acadêmica do que esperava. Mais do que sua obra anterior "Capitalismo e Colapso Ambiental" (2018), focado em demonstrar como a raiz do colapso atual é o dominante sistema de extração de lucros.
Mesmo não sendo leitura fácil, é um livro essencial para quem consegue deixar de ignorar essa ameaça à civilização.
Ignorar, mesmo suspeitando que não há nada mais urgente, é compreensível até. Porque mergulhar fundo nisso pode ser muito deprimente. Pessoalmente, não vejo sinais de que a crise será revertida. Na verdade, eles apontam para um agravamento sistemático. E isso em meio a ameaças interligadas, como a ascensão da extrema-direita.
Seria possível que até 2030, oligarcas, corporações e governos coloquem a mão na cabeça e se deem conta de que precisam parar, mudar tudo e recuar? Dentro do reino das possibilidades, sim, não seria fisicamente impossível. Mas é absolutamente improvável, com chances próximas de zero.
O mais provável é que o colapso continue a se multiplicar exponencialmente, até um ponto limite, em que não fará mais sentido continuar destruindo tudo, ou porque a maior parte já estará arruinada ou porque simplesmente não haverá mais infraestrutura de civilização para isso continuar.
Isso sim é algo 100% radical. Aquilo que costuma ser chamado de “radicalismo” ativista me parece mais bom senso.
(original com links → sol2070.in/2024/04/floresta-e-o-nome-do-mundo-ursula-le-guin/ )
"Floresta é o Nome do Mundo" (The Word for World Is Forest, 1972) é uma das consagradas ficções da imortal Ursula K. Le Guin. Ganhou o prêmio Hugo, talvez os mais importante da literatura de ficção científica. Como o nome e capa (da bela edição da Morro Branco) sugerem, é uma história ecológica.
Hoje, 52 anos depois da publicação, a sinopse pode soar batida: homens com as piores intenções aterrizam num planeta de natureza prístina e são confrontados pelo povo nativo alienígena. Como em Avatar, a tragédia básica por trás desse contexto interestelar é a velha e recorrente exploração geno-ecocida — também muito viva fora da ficção, principalmente em regiões onde ainda há florestas e indígenas, como o Brasil.
O que faz toda a diferença é Le Guin, com sua sutil sensibilidade para interações entre corações e mentes, o olhar mágico da natureza e …
(original com links → sol2070.in/2024/04/floresta-e-o-nome-do-mundo-ursula-le-guin/ )
"Floresta é o Nome do Mundo" (The Word for World Is Forest, 1972) é uma das consagradas ficções da imortal Ursula K. Le Guin. Ganhou o prêmio Hugo, talvez os mais importante da literatura de ficção científica. Como o nome e capa (da bela edição da Morro Branco) sugerem, é uma história ecológica.
Hoje, 52 anos depois da publicação, a sinopse pode soar batida: homens com as piores intenções aterrizam num planeta de natureza prístina e são confrontados pelo povo nativo alienígena. Como em Avatar, a tragédia básica por trás desse contexto interestelar é a velha e recorrente exploração geno-ecocida — também muito viva fora da ficção, principalmente em regiões onde ainda há florestas e indígenas, como o Brasil.
O que faz toda a diferença é Le Guin, com sua sutil sensibilidade para interações entre corações e mentes, o olhar mágico da natureza e o poder de tocar, despertar e refletir uma sabedoria interna até então dormente.
O livro ficou mais relevante do que nunca. Diante da realidade atual, os exploradores da história parecem saltar das páginas mais vivos, devido à espantosa semelhança com a mentalidade de extrema-direita que vem se disseminando pelo planeta.
O modo como Ursula pinta o mundo natural e suas interconexões é dos mais cativantes. Durante essas cenas, eu precisava parar e respirar, como se estivesse entrando em um estado alterado de consciência.
O pano de fundo é a mesma cosmologia hainiana de outras dezenas de livros e contos da autora, entre eles os amados "A Mãe Esquerda da Escuridão" e "Os Despossuídos" — os maiores clássicos sci-fi sobre fluidez de gênero e anarquismo, respectivamente. Hain é a civilização galática mais antiga desse universo, sendo a origem da vida em diversos planetas, entre eles a Terra.
"Floresta…" estava na minha lista de leitura há anos. O que ativou um impulso irresistível de finalmente lê-lo foi outra ficção ecológica de Ursula: o conto "Vaster Than Empires and More Slow" (1971).
Está pulsando até agora dentro de mim. É uma despedaçadora e magnífica história sobre despertencimento, natureza e redenção, também nesse universo hainiano. Uma mistura de Solaris com aqueles mitos imemoriais sobre a sonhada chegada ao lar. Faz parte de coletâneas como "The Wind’s Twelve Quarters" ou "The Big Book of Science Fiction".
Uma dica para quem for ler: a referência do título completa e expande muito o conto. É uma frase de um poema romântico e metafísico do século 17:
"My vegetable love should grow Vaster than empires and more slow;"
Imperdível para quem gosta de ficção científica e ecologia.
@bismuto Verdade, não teria como uma sociedade sem desigualdade surgir de uma desigual. Mas gradualmente acho que seria possível. Por exemplo, na Europa já houve vários experimentos com assembleias de consenso, para a decisão de questões nacionais como políticas ambientais ou sobre aborto etc. Essas assembleias são muito próximas do modo anarquista de fazer política, baseado em consenso, não em voto. Os governos que apoiaram isso são social-democratas, com menos desigualdade. Então, uma abordagem não revolucionária seria essa, emplacar cada vez mais governos verdes ou social-democratas, que são mais abertos à decentralização, que no final leva ao anarquismo. Tem a via revolucionária também. Outra possibilidade inegável é a de um colapso mais generalizado, em que modelos anarquistas possam emergir depois. Na verdade, pra mim anarquismo é mais como um ideal ou utopia de sociedade. Mesmo que seja algo muito distante da realidade, vale a pena não perder essa possibilidade de …
@bismuto Verdade, não teria como uma sociedade sem desigualdade surgir de uma desigual. Mas gradualmente acho que seria possível. Por exemplo, na Europa já houve vários experimentos com assembleias de consenso, para a decisão de questões nacionais como políticas ambientais ou sobre aborto etc. Essas assembleias são muito próximas do modo anarquista de fazer política, baseado em consenso, não em voto. Os governos que apoiaram isso são social-democratas, com menos desigualdade. Então, uma abordagem não revolucionária seria essa, emplacar cada vez mais governos verdes ou social-democratas, que são mais abertos à decentralização, que no final leva ao anarquismo. Tem a via revolucionária também. Outra possibilidade inegável é a de um colapso mais generalizado, em que modelos anarquistas possam emergir depois. Na verdade, pra mim anarquismo é mais como um ideal ou utopia de sociedade. Mesmo que seja algo muito distante da realidade, vale a pena não perder essa possibilidade de vista.